Não é espelho meu

Eu, que penso que tenho é que cuidar bem
Do meu de dentro
Para ele não vir feio de dentro de mim
E me devorar inteira
Pés, corpo, cabeça e face
Transfigurar meu rosto

Eu que com meu corpo
Que tento sempre pôr em movimento
- Travei uma paz –
E aceito o devir do tempo
Que é natural

Estranho você
Que espera de mim uma obsessão
Com algo tão raso
E específico
De imagem

Eu tenho mais preocupação
Em reduzir meu vocabulário
A isso

De restringir meu músculo
À forma

Que à sensação

Eu flutuo e devo fazer algum mal a ti

Que espera um vazio
Pra fazer espelho ao seu

Aqui dentro cativo alguma música
E mudo a antena

E digo
Qualquer um pode o que quiser

Autonomia também é
Aceitar o chão
Que se pisou

É ficar em pé
No chão
Que sente

E ver

Lucy, 15/10/2022

Irresoluto

Quando a melancolia puder se passar por calma
São os momentos em que meu coração
Estará seguro

Uma energia que precisa ser
Acalentada
A pesar todos vocês

Vem de dentro de si
Aquilo que se pode
Externar

Por vezes é preciso mais silêncio
Muitas vezes é preciso mais silêncio

Para me respeitar
Para te respeitar

Não cabem palavras
Nas filas de votação

O feio que sai de tudo isso
Dez mil almas perdidas
Dez mil armas pedidas

Na ideia de festa
Que o futuro de uma nação
É transformada em

Silêncio
Para aceitar

Que dentro de si
Tem alma

O futuro está
Em todas as ações que eu posso fazer
Que eu decido transformar
Em mim

E só
02.10.2022

Responder a si

Eu vou agradecer pelas músicas
Que não me abandonaram
Que acalentam

Eu agradeço à arquitetura
Que dentro de mim eu semeio
Em lógicas e artes

E eu sou tudo isso que construí
Com o que há no caminho

Com o que observo e pego
Entra e passa por mim

Com alma e calma
Riquezas que vem de dentro também
Para tentar alimentar
Um escudo para as suas
Ansiedades tantas

Desde quando se empurrou
A responsabilidade da tua ansiedade
Nos outros?

Eu também
Sou forte e frágil como uma música sensível

E eu só consigo te guiar dizendo para você andar só
Para se soltar de apoios
- que aprisionam -

Enquanto eu também
Fui andando
E me protegi dentro de mim com o que sempre pude
Criar

Ando cada vez mais
– sem entender a tua energia –

Para não te ferir
Para não me ferir
Cada vez mais
Em companhia solitária

Procuro reinventar
Uma outra versão de mundo

Mais criativa, mais aberta
Mais ar

Que essa

O tempo presente também é futuro
E tem a arte
De colocar as coisas no seu lugar

Espero

Que tudo seja mais
E mais leve
Que isso

Lucy, 14/09/2022.

Lavar por dentro

Eu tento lavar por dentro
E fica mais fácil em um domingo
Que teve a visita fiel
Às ondas do mar

Para que me reguem é preciso primeiro
Que eu saiba regar

Meu corpo aberto para poder dar e ser
Sem pequenez
Meus olhos preparados para ver o vento no mar
Que em correnteza as águas se mexem
E são vivas

Nessa paisagem
Que só eu ao vivo consigo ver
Pulsar
Com calma

Os orientais certamente saberiam meditar melhor sobre isso
O aceitar devir
O se abrir
O viver sem fuga de mal

Sem fuga de pecados

Abrir
Eu tenho a calma de um domingo
Que renova ar
Em semana

Ouvir o silêncio por vezes
É escutar a alma

Encontrar paz
No cerne de si

Lucy, 14/08/2022

A perspectiva maior se dá pelo Afastamento

Eu não aguento mais
Eu decepciono pois sempre fui
De tentar e conseguir ver - Alguma LUZ
O sol focando na crista das ondas
e a água criando arco-íris improváveis
que se desmancham com peso
E se reviram em rebuliço eterno

Mas as pessoas não carregam consigo
Essa lua
Eu espero mais
De mim, de vocês
Preciso retornar e proteger meu ventre

Para ainda esperar e buscar
O melhor de mim
Independente de você

Todos esses livros já foram escritos
E explicam, também,
O declínio de civilizações com egos inflados
E prepotentes

Está em Saramago, em Orwell
Enquanto eu suspiro, lambo minhas feridas
E olho o mar

Para manter-me Em mim

Lucy Donegan

, 19/07/2022

Como melancia

Quero ter suavidade e força
Como o sabor da melancia
Que tem fibras e água

Ter instinto e força para seguir
Sem me acomodar
E ainda conseguir preservar dentro de mim
Paz, leveza e luz

Apesar do peso e absurdos
Deste social - tão doente

Eu preciso seguir nesta pisada
Porque eu tenho um papel
De não entorpecer
De repassar
Algo bom
Uma contramão que deve ser só outra via

Na luz, sol, leveza e vento
Os pássaros que visitam por aqui
Voando
Ajudam

O mar que é sal e quebra a gravidade
Também

A água que flutua e silencia o de fora
Eu entro em outras atmosferas

Em mergulhos e fissuras
Que são contrarrevoluções
Alimento minha alma

E crio um espaço
Que protejo com corpo e mente

Ensaio frechas com cuidado
Pois é minha função também – reach out
Para algum contato
Que não fragmente

Lucy 10/04/2022

Agendas

Há muito tempo estive atenta a quem eu estava resolvendo ser

Há algumas semanas estive lendo
Minhas agendas de tempos difíceis
De tempos adolescentes quando eu com muito afinco
Me estabeleci

Testemunhei um histórico de forças que tentavam não se deixar
Carregar
Pelos centros gravitacionais e falsidades inúmeras
E isso não parou

Mas meu centro e corpo estão agora mais tranquilos em si

Minha necessidade de ti menor e minha identidade maior

Para se ser
É preciso se separar
Buscar-se dentro de ventos, leituras e movimentos

Ir para longe para ver, em que paisagem ser
E saber ouvir energias
Sem precisar retorquir

Eu aqui, vocês aí

E então fica(rá) tudo bem
Como sempre

E tudo que é vocês continuará sendo
Sem mais surpresas

E eu aqui do meu lado, também

Lucy, 24/02/2022

Espaço pra ti

Eu não preciso ir
Na sua companhia

Eu posso ficar bem
Comigo

Que tenho dentro de mim mais leveza que amarras

Universidades feitas por controles e falsidade
Que tipo de aprendizado te fez?

Eu com minhas músicas e meu amor
Recuo

Deixo espaço pra ti
Para deixar a sua imagem servir
De espelho
Pra ti

Paz
E eu longe

Lucy, 24/02/2022

Meu amor renova em ti

Se do fundo da alma foram escritas músicas
Que eram sobre amor se escorrendo em sangue
Com pétalas

Eu também aceito O que a natureza grande
Quer
Porque foi ela que te trouxe pra mim

Eu cicatrizo Nós cicatrizamos
Ao nos fortalecer

Há uma leveza refeita
No dia de hoje
Porque ela é necessária
Para nos preservar
-Meu amor-
Em nós mesmos

Felizes, para continuar, a Amar
E caminhar

Lucy 8 fevereiro 2022

Vencer a intelectualidade irreal

Eu vou apagar e desligar
Teu som, teus ruídos,
E vou ter música em mim
E produção

Teus ruídos que são egos e confusões
Caem
Ao redor de mim

Enquanto me movimento
- Enquanto sou nós com meu par
Podemos, e somos distantes disso -

Enquanto eu, água e sol e braçadas
E meu corpo todo é íntegro
E soa
E solta e limpa suor
Sem derreter

Eu em som e silêncio afirmo

E distingo, todo dia
O que ser
O que não ser

Pois vencer não é subir
Pegando em outros corpos para uma altura irreal e cega

Vencer para mim é paz
Largar pretensões
Cortar correntes

Nadar, andar, flutuar

E se ser, em si

Lucy, 17/12/2021