Só alguns comentários...
Vez ou outra leio o livro "Um sopro de vida" de Clarice Lispector e me dá vontade de gravar vários trechos do que ela diz.. O livro passa como movimento por mim mas ao mesmo tempo quero capturar... e sempre releio ela e vejo com novos olhos..
Então vai aí um trecho que li hoje:
"(...)
AUTOR -- Na hora do acontecimento não aproveito nada. E depois vem uma ilógica saudade. Mas é que o tempo presente, como a luz de uma estrela, só depois é que me atingirá em anos-luz. Na hora não chego a perceber do que se trata. Parece-me que só sou sensível e alerta na recordação. Quase que vivo, pois, no passado, por não recordar a espécie de riqueza do momento atual.
O esquecimento das coisas é minha válvula de escape. Esqueço muito por necessidade. Inclusive estou tentando e conseguindo esquecer-me de mim mesmo, de mim minutos antes, de mim esqueço meu futuro. Sou nu.
Ângela -- Quando me pergunto se o futuro me preocupa, respondo atônita ou fazendo-me de fingida: futuro? mas que futuro? o futuro não existe. Sou complicada? Sou simples como Bach!
Eu tenho medo do instante que é sempre único. Hoje, entrando em casa, dei um profundíssimo suspiro como se tivesse chegado de longa e difícil jornada. Pessoas desaperecidas. Onde estão? (...)." Clarice Lispector em "Um Sopro de Vida" p.161
domingo, 3 de maio de 2009
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"O esquecimento das coisas é minha válvula de escape" - acho que quase todos fazem isso mesmo que sem consciencia... acho que já fiz isso várias vezes...
ResponderExcluirE outro trecho que talvez tenha nada a ver: "ângela -- Eu te amo tanto como se sempre estivesse te dizendo adeus. (...) Eu tenho que ser minha amiga, senão não aguento a solidão. Quando estou sozinha procuro não pensar porque tenho medo de de repente pensar uma coisa nova demais para mim mesma.
ResponderExcluir(...) Hoje varri o terraço de plantas. Como é bom mexer nas coisas deste mundo: nas folhas secas, no pólen das coisas (a poeira é filha das coisas). Meu cotidiano é muito enfeitado.
Estou profundamente feliz." p.42